O Convívio Pessoa & Eletrônicos
- silvcris47
- 19 de ago. de 2022
- 8 min de leitura
Quem já não observou a cena de uma família sentada à mesa de um restaurante, em que ninguém se olha, conversa ou manifesta algum gesto de carinho ao outro? Cada um está entretido com o seu celular, tablet ou videogame e, até mesmo, o bebê no cadeirão tem uma tela à sua frente.

É bastante comum presenciarmos algo semelhante nos dias atuais e, na visão de muitos, não há qualquer tipo de problema em ter hábitos como esse. No entanto, tal pensamento não expressa a verdade porque sérias consequências têm sido constatadas nos relacionamentos familiares e na saúde e desenvolvimento das crianças, devido à falta de atenção, interação, comunicação e ao uso indiscriminado das telas.
Como já relatado no artigo “A Aquisição da Linguagem na Primeira Infância”, muitas crianças são recebidas em consultórios e escolas apresentando retardo na fala, por causa do mal convívio familiar, sem a fala melodiosa da mãe, a presença do pai, a brincadeira com os irmãos amiguinhos, primos... Ausências que, no decorrer do tempo, gerarão, além da linguagem prejudicada, outras dificuldades para essas crianças.
O convívio pessoa-pessoa precisa acontecer na vida do ser humano desde o ventre materno e deve ser mantido dentro da família para que ela permaneça unida e saudável.
Na atualidade, o convívio pessoa-eletrônicos prevalece e inibe a interação entre as pessoas. Neste artigo, vamos refletir sobre algumas especificidades desse contato, que cresce assustadoramente, e os impactos causados por ele.
O Convívio Pessoa-Televisão
Um dado importante de uma pesquisa realizada em 2011, diz que: 97% das residências no Brasil possuem um televisor. Em contrapartida, no ano de 2016, outra pesquisa aponta que: 44% dos brasileiros não têm o hábito de ler e 30% nunca compraram um livro na vida.
A partir desses dados, iniciamos nossa conversa sabendo que boa parte do povo brasileiro permanece um tempo considerável de sua vida diante de um aparelho de TV, em vez de ler bons livros.
A televisão é constituída de som, imagem e texto. A imagem é a mais importante para os seus propósitos, como: o aumento dos índices de audiência e a venda de todo tipo de mercadoria.
A televisão utiliza as cores de forma pensada e estudada, a fim de provocar emoções nos telespectadores. Os adultos não percebem essa intenção, muito menos as crianças, que acabam sendo inocentemente influenciadas.
Aliados à imagem, estão os sons e as músicas com melodias de estruturas simples e esquema repetitivo de fácil assimilação (jingles e hits), que criam um reflexo condicionado para a pessoa reagir comprando determinado produto, ou saber que vai iniciar ou terminar um programa ou intervalo comercial. Enfim, o seu nefasto propósito é gerar um jogo de imagens, músicas e sons para causar ilusões e reações mecanizadas.
As narrativas na TV misturam ficção e realidade. O que é realidade se torna ficção e a ficção realidade e, dessa forma, ensinam às crianças que não existe verdade. Ela ensina que o certo é o errado e o errado é certo, gerando confusão na mente das pessoas, incapacitando-as de pensar. E, em estado hipnótico, recebem toda aquela narrativa, associada às imagens e sons, com alegria e sem esforço intelectual. A televisão entrega tudo pronto e não dá possibilidades de resposta.
Tudo o que assistimos na televisão nos passa uma mensagem materialista e consumista, de superficialidade. Não precisaremos saber pensar e nem nos esforçarmos para adquirirmos conhecimento.
Além do que podemos ver e ouvir, existem mensagens que não conseguimos perceber com nossos sentidos:
· As mensagens subliminares, que estão abaixo do limiar da consciência e produzem efeitos na atividade psíquica. A pessoa não percebe imagens ou sons que produzem efeitos maléficos em seu cérebro.
· A Projeção Taquicoscópica, em que uma imagem é embutida em outra imagem e aparentemente não a vemos, mas chega em nosso cérebro de forma inconsciente. Como por exemplo: imagens pornográficas em desenhos animados.
· A Programação Preditiva, que é uma forma sutil de condicionamento psicológico infiltrado na mídia com a finalidade de condicionar o público para mudanças sociais planejadas por uma establishmentglobal. Quando essas mudanças forem implementadas as pessoas já as aceitarão como normais, diminuindo as possíveis resistências. Destina-se a suavizar um evento traumático. Ela está presente em desenhos animados, como “Os Simpsons” e filmes como “Jogos Vorazes”.
De acordo com especialistas, os efeitos desses estímulos afetam a memória, provocam sonhos e reações emocionais, influenciam o comportamento verbal e aquisitivo, o nível de adaptação nos valores de julgamento e psicopatologias.
O Corpo Humano e as Telas
Fora os danos, irreversíveis, causados à visão e à audição das crianças que passam muito tempo envolvidas com as telas do tablet, celular e videogames, existem vários estudos que comprovam que a televisão afeta em primeiro lugar o corpo e depois a mente. Impacta o sistema nervoso e as emoções dos telespectadores.
Pode criar, ainda, doenças, como a obesidade, devido à inatividade física e mental. O metabolismo fica mais lento e pode provocar a elevação do colesterol, a baixa capacidade cardiorrespiratória e o tabagismo. Nas crianças é especialmente grave!
Nossa visão e audição levam aos nossos sentidos internos, principalmente à imaginação e à memória, coisas sem sentido porque não estamos preparados para entendermos mudanças rápidas de imagens, sons e músicas.
Há casos de crianças passarem mal assistindo certos desenhos animados, devido às sequências rápidas de imagens. Um exemplo é: o conhecido “Fantasia”, da Disney. Nele há uma cena em que se passam 12 imagens seguidas, dentro de apenas 3 segundos.
E um dos casos mais famosos aconteceu em dezembro de 1997, no Japão. Naquele ano, foi lançado o 38º episódio da série do famoso desenho “Pokemón”. Em uma das cenas, há uma alta carga elétrica sobre um programa de computador, o que acaba resultando em uma explosão. A cena mostra flashes vermelhos e azuis pulsando na tela durante alguns segundos, isto foi suficiente para causar um grande estrago.
Naquele dia, 685 telespectadores (maioria crianças) foram parar no hospital com dores de cabeça, enjoo, convulsões e ataques epilépticos em função do episódio. Esse fenômeno é chamado de epilepsia fotossensível, quando a convulsão é desencadeada por padrões de imagens e luzes.
Luzes piscando em uma frequência entre 10 e 30 hertz, imagens alternadas e até a cor vermelha são alguns dos estimulantes para quem tem tendência à convulsão. A técnica usada no episódio é chamada de paka paka, e inclui justamente todos esses gatilhos.
Além de todos esses estragos, nossa imaginação é forçada demais. Devido a tanto esforço, conseguimos apenas imaginar e, por isso, não é possível pensarmos. A nossa memória também acaba sendo inibida porque relacionamos coisas que são ligadas umas às outras e o que é transmitido pela TV são imagens e sons desconexos.
As Potências da Alma e as Telas
Como já vimos anteriormente no post “A Educação da Afetividade, da Vontade e da Inteligência”, temos três potências da alma: a afetividade, a vontade e a inteligência. E a função da linguagem é abranger essas três potências.
A linguagem transmitida pela TV inibe a vontade e a inteligência e vai focar apenas na afetividade das pessoas para lhes prender a atenção.
Ela não contribui na aquisição do saber, que supõe o uso da reflexão e do julgamento, por causa da sucessão rápida e ininterrupta de imagens luminosas que não dão tempo para refletir e julgar. Contrapõe-se à contemplação porque a imagem passa por frações de segundo sem proporcionar ao observador o tempo necessário para contemplar, assim como quando contemplamos uma paisagem ou uma obra de arte.
Ao assistirmos televisão, a nossa atenção fica dispersa, sem concentração, deixamos um fluxo ininterrupto nos atravessar. Imagine o que isso pode causar à uma criança.
Em minha sala de aula, luto constantemente contra as dispersões. Elas são causadas não porque a aula está desinteressante, mas porque as crianças estão acostumadas a ficarem dispersas frente aos seus tablets, celulares e televisores. Elas mesmas me contam que passam horas assistindo aos vídeos do Tik Tok ou jogando videogames.
Vivemos em uma época de muita informação e pouco conhecimento e as crianças estão sendo as principais vítimas disso tudo.
A Família e as Telas
Preferir às telas ao convívio familiar é privar quem é mais próximo daquilo que temos de melhor e de alegrias incomparáveis. É dar as costas uns para os outros: cônjuge para seu cônjuge, pais para os filhos e filhos para os pais. É fadar-se à solidão, à separação e à indiferença.
A televisão é uma invenção que nos entretém com pessoas grotescas, estultas, imorais, etc., que não as permitiríamos que entrassem pessoalmente em nosso lar. Mas, acabam fazendo parte do convívio familiar por meio dos programas televisivos e elas nos dizem o que devemos vestir, comer, pensar, falar...
A Bíblia já nos alerta que não podemos nos enganar: “As más companhias corrompem os bons costumes” (I Coríntios 15:33). Uma televisão, ligada indiscriminadamente na casa, é a má companhia que vai corromper o que há de bom na família. Pense nessa verdade!
As Crianças Com e Sem As Telas
É possível observar, em uma sala de aula, a diferença entre as crianças que ficam envolvidas muito tempo com as telas e as que não ficam, no nível intelectual e de curiosidade. O imaginário das que se envolvem com as telas é focado em algo que já viram na TV, no YouTube e nos videogames, enquanto que o das demais não. Quem não se envolve demasiadamente com as telas mostra maior curiosidade para aprender, descobrir coisas novas e é livre para usar a sua imaginação.
Outra coisa seríssima que ocorre com as crianças que assistem televisão é o estímulo à erotização, que recebem de forma sutil ou mesmo escancaradamente.
O uso intenso da TV leva ao empobrecimento do vocabulário, à diminuição das habilidades matemáticas e à queda do nível de atenção, dentre outras complicações para o desenvolvimento infantil. Em 2013, Linda Pagani, uma psicóloga canadense, realizou um estudo com um grupo de aproximadamente 2000 crianças de dois anos de idade que apresentaram esses sintomas, após exposição indiscriminada à tela da televisão.
Antes desse estudo, em 1997, a mesma pesquisadora acompanhou um outro grupo de crianças, que entre dois anos e meio e quatro anos e meio de idade foram submetidas a uma intensa exposição à televisão. Após esse período elas foram observadas até que completassem 10 anos. Ao término desse período, Linda constatou que as crianças mais expostas à televisão se tornaram menos autônomas, menos perseverantes e hábeis socialmente do que as que não tiveram essa exposição. Ela pensou que esses efeitos seriam eliminados com o passar dos anos, mas isso não ocorreu. Os danos permaneceram.
Sobre as características da TV e os males que causam às vidas e aos lares, há muito o que escrever e refletir, mas esse artigo ficaria muito extenso e fugiria do nosso propósito. Deixo, então, uma indicação valiosíssima para quem deseja se aprofundar sobre assunto, o livro “Televisão: um ‘fast-food’ envenenado para a alma”, de Marcelo Andrade. Vale a pena conferir!
Para Concluirmos...
Aqui ficam alguns desafios aos pais:
É tempo de revermos nossas prioridades, pensarmos em nossa família e na formação das nossas crianças.
Para deixarmos as telas e motivarmos nossas crianças a se afastarem delas, há possibilidades muito interessantes, tais como:
A leitura da Bíblia e Devocionais em família.
A leitura em voz alta de obras da Literatura Clássica e Moderna, como “Pinóquio” (de Carlo Collodi), “As Crônicas de Nárnia” (de C. S. Lewis), dentre outras.
Uma roda de “contação” de histórias reais da infância dos pais e familiares, ou histórias que sabem de cor.
A prática musical em família.
Desenhos e pinturas com diversos materiais.
Jogos de tabuleiro.
LEGO.
Essas atividades fascinam as crianças e os adultos também!
3. Cabe aos pais o estabelecimento de regras para um uso sadio das telas ou até mesmo o não uso delas, principalmente quando a criança é muito pequena. É necessário critério, autoridade e sabedoria.
Falaremos sobre a autoridade dos pais e a obediência dos filhos no próximo post. Não percam!




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